Por: Kátia Chiaradia

 A literatura foi um dos caminhos pelos quais o jovem autor Fernando Aguzzoli escolheu compartilhar o que construiu, dentro de si, vivendo da melhor maneira possível ao lado de sua vovó Nilva nos últimos anos dela. Quando isso aconteceu, ele ainda não era um autor de literatura; era quase unicamente um neto dedicado, determinado a transformar os dias de sua avó, sua melhor amiga e grande companheira [1]. 

Na história de “Vovô é um super-herói”, neto e avô residem com a família na mesma casa. O avô tenta ajudar nas tarefas domésticas, mas vive esquecendo o fogo aceso; e é comum esquecer também o lugar onde guarda seus pertences. Isso o leva a muitas situações embaraçosas por causa do esquecimento. Nada disso, claro, é empecilho para que ambos se divirtam em mil aventuras, na terra ou no ar, perseguindo malfeitores como o Duende Brincalhão. 

De fato, as crianças têm uma relação muito interessante e divertida com os velhos[2]: Elas parecem achar que os velhos não são adultos, propriamente ditos, já que andam e falam diferente deles, dão risadas de bobeiras, não podem comer tudo que querem, nem andar sozinhos, e sabem se divertir bem mais que os adultos…Eles chegam até a se parecer com crianças! Certamente essa é uma das chaves para que as relações entre avós e netos sejam tão envoltas em pertencimento mútuo. 

Mas, um dia, o menino ouve uma conversa de seus pais e passa uma noite toda muito preocupado, acreditando que Alzheimer fosse um monstro feroz. Pensando, ele quer buscar uma forma de ajudar o avô, seu grande companheiro, a ter forças para vencer seu algoz. O avô explica que ele vai continuar esquecendo muitas coisas e um dia, até mesmo, poderá esquecer o próprio neto. Mas o menino promete que nunca esquecerá o avô.  

Nesse ponto do livro, a mistura entre o passado que fomos e o futuro que talvez sejamos faz com que nós, leitores adultos, sobretudo aqueles que estejam lidando com o Mal de Alzheimer, nos emocionamos muito. Há algo de triste até. Mas as crianças, não. Crianças entendem o mundo mais com o coração do que com a razão. Nessa tocante passagem, as crianças sorriem e parecem enxergar um honrado pacto entre super-heróis. 

Dessa forma lúdica e de uma leveza ímpar, neto e avó encontram uma forma de encarar o Mal de Alzheimer e continuarem uma amizade, repleta de brincadeiras próprias entre avô e neto, para toda a vida e mesmo além dela. 

E Fernando Aguzzoli vai ensinando como transformar a dor em amor.

Código no PNLD Literário 2018: 1031L18602.

Campos de atuação (BNCC): Campo da vida cotidiana; Campo artístico-literário; 

Campo da vida pública; 

Tema transversal dos PCNs: Ética; Saúde, Pluralidade Cultural. 

[1] Esse tempo se transformou em um grande projeto: http://vovonilva.com.br/

[2] Nós já falamos sobre isso na resenha sobre nosso “Os velhos amigos de Tobi”, também selecionado para o PNLD.

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