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OBRA APROVADA NO PNLD 2018 LITERÁRIO: O CACHORRO PRETO

Por: Kátia Chiaradia 

 

O Cachorro preto, obra premiada de Levi Pinfold, foi escolhido para o PNLD 2018 LITERÁRIO, na Categoria 5 – 4º e 5º anos do Ensino Fundamental.

É difícil escolher o melhor de “O Cachorro Preto”. Quando converso com alguém sobre ele para explicar que decididamente a ilustração é seu forte, vou me relembrando de como o enredo fascina. E quando começo a conversa defendendo o enredo, já atravessei minha própria fala, absolutamente seduzida pela linda ilustração do jovem inglês Levi Pinfold[1]. É um círculo virtuoso de dois amores!

Também não é nada fácil identificar o protagonista. No primeiro terço do livro, todas as descrições do narrador-observador tomam como referência o garoto Joaquim: o Sr Fábio é apresentado como “pai de Joaquim”, Isabela é “mãe de Joaquim”, Júlia é “irmã de Joaquim”. Essa escolha de referência do narrador leva o leitor a aguardar o momento em que o menino Joaquim tomará a frente no enredo. Isso, contudo, não ocorre, e essa é apenas uma das várias surpresas que o livro guarda. O divertido nesse ponto da leitura é ir percebendo que o maior candidato a protagonista não fala uma palavra (ainda que diga muito, como é a natureza dos animais).

O mote do enredo é o aparecimento de “um enorme cachorro preto no jardim da casa da família de Joaquim”. O primeiro a vê-lo é o Sr Fábio, seguido de Isabela, Júlia e o próprio Joaquim, cada qual mais amedrontado que o outro pelo tamanho do animal, que se parecia com uma pantera, um elefante, um dinossauro e até um bicho-papão (como é da natureza dos medos). É da caçula Marília, apresentada sem qualquer referência a Joaquim, que, contudo, vem a segunda surpresa do enredo: tomada de curiosidade e inocência (como é a natureza das crianças) a pequena empenha-se, na ponta dos pés, e consegue abrir a maçaneta da porta de sua casa, para ir ao encontro do cachorro preto.

E, nesse ponto, começa a se desenhar a, talvez, mais envolvente surpresa da narrativa, protagonizada por Marília e o cachorro preto.

Inicialmente, o cachorro preto fareja-se Marília, em “uma GRANDE CHEIRADA”. A menina, representada na ilustração centenas de vezes menor

que o cachorro, chama-o de “monstrengo” e, bem-humorada, desafia-o a alcançá-la na corrida. Conforme Marília vai correndo e brincando com o cachorro preto, ele, envolvido pela brincadeira e sem tirar os olhos dela, vai diminuindo de tamanho, até se transformar em um cachorro comum. Marília, então, após destituí-lo do tamanho de seu medo, leva-o para a casa, para que receba amor de sua família, que, também já sem seus medos, passa a vê-lo apenas como um animalzinho em busca de amor e “um lugar quentinho para ficar”[2].

As ilustrações de O Cachorro Preto são trabalhadas sob a proposta do “realismo estilizado”, uma expressão que se refere ao estilo característico do autor e ilustrador Levi Pinfold. Assim, elas se identificam com um desenho de cunho mais realista e de caráter mais sério que o costumeiro para ilustrações infantis (que se aproximam, em parte, das clássicas ilustrações de natureza morta), mas suficientemente simples para agradar aos olhos das crianças, ou seja, estilizadas (por exemplo, sem muitos detalhes nas linhas de expressão faciais).

As ilustrações se intercalam, no livro, entre o sépia e o colorido, para retratar respectivamente os detalhes marginais, em quase todas as páginas pares, e as cenas centrais do enredo narrativo, nas páginas ímpares, da direita.

Vemos, ao longo das páginas ricamente ilustradas, o retrato de cenas comuns de uma realidade quase desinteressante, mas alteradas, contudo, por um detalhe fantástico da imaginação.

Em O Cachorro Preto, a fantasia é retratada como algo do e no cotidiano: em cada cena, em cada página, em meio a muitos detalhes de um cotidiano interno absolutamente comum, na casa de uma família igualmente comum, o fantástico vem do exterior, pela janela, alterar a maneira como percebemos a realidade.

 

Código no PNLD Literário 2018: 0859L18602.

Campos de atuação (BNCC): Campo artístico-literário; Campo da vida cotidiana.

Tema transversal dos PCNs: Ética

 

[1] Com apenas sete anos, Levi foi para aulas de aquarela, meio com o qual ele trabalha até hoje. Seu traço é bem marcante e característico – uma espécie de realismo impressionante e estilizado. O Cachorro Preto, seu segundo livro, é pintado em têmpera – uma mistura de pigmento com ovo e água, que tem o mesmo resultado de guache, mas que permite trabalhar com mais nuances de cores.

[2] É interessante frisar, aqui, que toda essa reflexão sequer usa a palavra “medo”.

 

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