Era uma vez um Logo Mingau é um daqueles livros-unanimidade: todos que o leem amam-no. De qualquer idade. Ao menos foi assim com aqueles que conheço (eu, inclusive!) [1].
Mingau é um lobo bem diferente dos demais. Ele até tenta – e bastante – ser como a maioria dos lobos, mas ele simplesmente não é. E também não é nada fácil seu processo de auto aceitação. Mingau queria muito mudar, pode assustar a todos, como se espera de um lobo “normal” … Então, sabendo quanto a palavra é terapêutica, seja na escrita ou na fala, foi procurar por terapia (e yoga, meditação…), justamente para poder mudar.
E ele conseguiu!
Mingau mudou a maneira de olhar para si mesmo, em vez de mudar quem ele é.
(Pausa dramática aqui, para que essa frase não passe batida a quem precisa lê-la, mas ainda não sabe que precisa.)
Mingau se descobriu vegetariano e foi trabalhar com agricultura orgânica e sustentável [2]. Ele parou de ter pesadelos com linguiças, salames e afins e aceitou o fato de não conseguir sequer pensar na possibilidade de comer uma vovozinha.
E quando ele estava bem consigo, encontrou e foi encontrado pelo amor: o Lobo Mingau se apaixonou pela Loba Barriga, sua vizinha linda e fora dos padrões.
Essa poderia ser a história de muitos de nós, e vem certamente daí seu sucesso.
Nós, adultos, às vezes pensamos que, só para nós, viver parece uma sequência de pequenas batalhas pela aceitação do outro (e, por vezes, grandes batalhas pela auto aceitação), mas a verdade é que as crianças também têm dilemas (mesmo sem conhecer esse nome, porque os sentimentos não precisam ser batizados para existir).
O nome de Alessandra Roscoe circulará muito nas escolas nos próximos anos, porque ela teve quatro livros (!) aprovados no PNLD Literário 2018 [3]. Seu texto, em especial ao contar a história do Lobo Mingau, tem a medida do equilíbrio entre ao estranhamento e a identificação, nos temas e nas palavras – e, talvez, justamente por não ter intenção didática, seja muito aceito por crianças de todas as idades, que têm nele a chance de ler, por si só, uma obra tão reflexiva quanto divertida.
Por sua vez, o ilustrador argentino Juan Chavetta [4], que também ilustrou “Vovô é um Super-Herói”, igualmente aprovado para o PNLD Literário 2018, traduziu excelentemente nos “grandes-olhos-grandes” do Lobo Mingau as emoções que permeiam os dias de quem está em descoberta da melhor versão de si.
No prefácio de seu “Contracorrente”[5], Ana Maria Machado, nossa celebrada representante da Literatura Infantil na Academia Brasileira de Letras, diz que é preciso “lutar contra os elos de ferro que formam cadeias e servem para impedir o movimento livre”. “Era uma vez um Lobo Mingau”, de Alessandra Roscoe e Juan Chavetta, é exatamente assim, uma ode ao movimento livre.
Código no PNLD Literário 2018: 0977L18602.
Campos de atuação (BNCC- Ensino Fundamental): Campo artístico-literário;
Tema transversal dos PCNs: Ética; Pluralidade Cultural;
[1] – Meu, digamos, “corpus de pesquisa pessoal” é composto por muitas minis pessoas de mais ou menos 5 anos até uma mama-pessoa de 73 anos. Todos adoraram o Mingau! E apenas uma dessas pessoas conseguiu apontar algo de que não gostará: meu marido não gostou do fato de o Mingau ter só um dente, porque, em sua visão, isso torna o protagonista decadente. E fez muxoxo. Eu achei tão legal esse comentário (!), porque só mostra a identificação dele com o Mingau. Ou seja, o Lobo Mingau é unanimidade!
[2] – Quero ser amiga dele!
[3] – Ela e seu “Receita de Bem Crescer” já são velhos conhecidos de professoras e professores da capital fluminense, graças ao projeto Minha Primeira Biblioteca.
[4] – Eu adoro como ele faz cabelos e pelos!
[5] – MACHADO, Ana Maria. Contracorrente- Conversas sobre leitura e política. São Paulo: Editora Ática, 1999.
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