A série “Os Caras Malvados”, do celebrado australiano Aaron Blabey, conta a história de um grupo de vilões. Ou talvez sejam ex-vilões. Ou talvez sejam vilões tentando ser ex-vilões. Ou talvez sejam algo que misture tudo isso e lembre, de maneira muito próxima, a própria natureza humana. Ou talvez não, porque não somos vilões.
A questão é que Lobo, Cobra, Tubarão, Piranha e Patinhas têm jeito de caras malvados, parecem-se com caras malvados, mas, estão tentando mudar isso a todo custo. Em meio a muitos conflitos internos (do grupo e de cada um), essa gangue leva a vida em busca de restabelecer a justiça e tornar o mundo um lugar melhor.
Mas por quê?
Para que todos vivam de maneira justa? Ou será para que cada um deles passe a ter uma ideia melhor de si e, assim, seja feliz? É possível responder a esse porquê? Pode parecer “só mais um quadrinho para crianças e adolescentes”, mas já no primeiro “Os Caras Malvados” todos esses questionamentos surgem, assim como o Sr. Lobo convoca a trupe para, digamos, empreender no ramo de super-heróis.
Bertrand Russell (1872-1970), em seu “O segredo da felicidade”, explica que não se pode garantir a própria prosperidade sem que se assegure a prosperidade alheia (de todos!), o que, portanto, segundo ele, faria da humanidade uma grande família. Se, por um lado, essa receita dá fortes indícios de que a felicidade não é, hoje, algo tangível, por outro mostra um caminho concreto para buscá-la: um blend de empatia e combate a injustiças .
Há, ainda, nesse pensamento de Russell, outra palavra digníssima de atenção: a família. De filósofos a digital influencers, muitos tentaram e vêm tentando definir o que é família. Em vão. A vivência nos diz que família é onde o coração pode ficar calmo e arredio, doce e ácido. É o conjunto das pessoas (humanas ou não) com quem (e por quem) temos a absoluta segurança de brigar e discutir, terrivelmente, se preciso for. Família parece ser o lugar social onde podemos ser nós mesmos, porque o amor envolvido ali é tanto, que não parece mais ser um risco ousarmos sermos nós.
Dito isso, podemos assumir que esses “caras malvados” são um retrato fidedigno da família que temos, aquela que escolhemos e por quem somos escolhidos diariamente (porque estar junto é escolha diária). Mais especificamente, temos aqui um retrato de irmãos, cujo amor “dura 5 minutos” (como costumam relatar em tom de brincadeira as mães, nos passeios do final de semana, ao apartar irmãos e primos de corações bélicos), mas cuja cumplicidade pode resistir como diamante a qualquer moralidade externa àquela relação.
Em “Os Caras Malvados 2”, essa cumplicidade é colocada à prova de maneira mais evidente. Nele, o Sr. Cobra erra em algo muito sério, que poderia definir, inclusive, a maneira como seus amigos heróis (quiçá o mundo!) olham para ele. E eles se decepcionam. E eles discutem. E eles ameaçam romper relações. Mas eles, como verdadeiros heróis da vida real, constroem algo mais sólido depois desse capítulo. E salvam 10.000 vidas!
É preciso muita confiança para amar; é preciso também muita confiança para brigar. Quando conseguimos fazer as duas coisas com alguém, percebemos que ali temos “família”. Ao longo de toda a série “Os Caras Malvados”, Lobo, Tubarão, Piranha, Cobra e Patinhas conflitam tanto quanto se apoiam. Entre eles (como em qualquer família), o sonho de um torna-se o sonho de todos, e, de repente, lutar por esse sonho faz a gente perceber que aquele sonho já estava em nós também, mas a gente não sabia.
E é assim que cada um desses “caras” vai percebendo que, mesmo que eles não levem ainda muito jeito, lutar contra injustiças e defender aqueles que não têm voz é um sonho que vale a pena se perseguir. Eles nem conseguem entender direito “como?” ou “por quê?”, mas em “Os Caras Malvados 3” é assim que eles seguem, diferentes e semelhantes: autênticos em suas personalidades, mas sempre com a meta comum de defender aqueles que não têm voz, mesmo que as vítimas não saibam que estão em perigo.
No livro 3, vem trazer forças ao grupo mais uma figura incrível: Agente Especial Fox. Inteligência, liderança, bravura e coragem perfeitamente equilibradas em um único ser! Melhor parar por aqui, para não tirar um prazer do leitor
Ao longo de três livros, esses aspirantes a heróis acumulam desafios, conquistas e comemoram vitórias.
A fórmula do “um por todos e todos por um” parece ser perfeita nessa relação. Até que no quarto livro ocorre algo diferente. Em “Os Caras Malvados 4”, a vitória do bem contra o mal não vem, ao menos não para nossos olhares adestrados às leituras maniqueístas dos eventos e das pessoas.
E o que heróis e famílias fazem quando algo dá errado? Essa pergunta, sim, pode ser respondida! E será, para quem chegar até a última página.
Do ponto de vista da forma, podemos esperar ao longo da série aquilo que vemos em qualquer história em quadrinhos: a ilustração diz tanto quanto o texto escrito, os diálogos são dinâmicos e os finais são marcados por cliffhangers (ou ganchos), um recurso popular em HQs, novelas, séries e folhetins do século 19.
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