Por Kátia Chiaradia 

“Fora deste mundo”, de Kat Uno (tradução Janice Florido), é um dos lançamentos da Editora Saber e Ler para março de 2020. Trata-se de um livro pensado para o público todler, ou seja, bebês e crianças bem pequenas, motivo pelo qual seu projeto gráfico é um ponto muito forte da literariedade que o compõe.

Como deve ser qualquer livro pensado para essa faixa etária, “Fora deste mundo” propõe-se a, antes de qualquer coisa, familiarizar o bebê, de maneira lúdica, à materialidade do objeto livro, a começar pela grossa capa, ao mesmo tempo macia e resistente, favorecendo o manuseio pelo bebê, cuja pegada é comumente em garra e não em pinça. A beleza de seu projeto gráfico se estende e amplia-se às páginas, cartonadas, coloridas e brilhantes na medida certa, valorizando o envolvimento e a interação do bebê como objeto de leitura.

Mas, diferentemente da maioria dos livros para bebês disponíveis no mercado, “Fora deste mundo” tem um olhar especial para as possibilidades de leitura a serem ser extraídas de suas páginas. O livro possibilita, ao menos, quatro maneiras de ser manipulado e lido. Podemos dizer, inclusive, que essas maneiras acompanham o desenvolvimento e a maturidade do bebê ao longo de seu crescimento.

Quando o folheamos da maneira convencional e ocidental, movendo as páginas da direita sobre as da esquerda, temos uma sequência expositiva que apresenta todos os planetas de nosso sistema solar, atribuindo a cada um deles uma característica física: “o Sol alaranjado”, “o pequeno Mercúrio”, “o gigante Júpiter”, “o gelado Urano”. É um excelente e divertido apoio para ampliação de repertório de palavras dos bebês.

A segunda maneira de ler esse livro demanda uma coordenação um pouco mais desenvolvida, já que suas páginas devem ser viradas da esquerda para a direita, como se fosse um livro oriental. Nesta versão, também as ilustrações são mais complexas e se diferenciam das ilustrações da primeira leitura, ao oferecerem brilho e textura além das cores. Ainda nesta possibilidade de leitura, lemos pequenas frases, personagens em movimento e notamos, inclusive, uma interação com o leitor: “Sabe o que eu consigo ver à noite no céu?”.

A terceira possibilidade de leitura é a mais surpreendente e pressupõe um leitor ágil, coordenado e capaz de criar sua própria narrativa dentro de uma sequência de quadros. Materialmente falando, essa leitura se dá quando o leitor, ao levantar a primeira página, puxa-a, desdobrando-a, de maneira a formar uma grande sequência de páginas. Só então percebemos que o livro é uma grande dobradura, que pode ser lida dos dois lados, cada qual formando uma longa tela: nosso sistema solar e a viagem de um astronauta à Lua.

Trata-se de uma leitura surpreendente porque sustenta infinitas interações com a ilustração, uma vez que permite infinitos pontos de observação e de fruição daquele quadro que se apresenta. Na prática, os bebês que sequer engatinham, mas ficam de bruços, são motivados a se deslocarem ao longo dos quadros explorando-o e construindo sua própria forma de interação leitora. As crianças maiores e já falantes, por sua vez, são estimuladas a criar suas próprias narrativas a partir da leitura dos cenários em questão.

“Fora deste mundo” é uma composição de desafios e estímulos do início ao fim. 

Campos de atuação (BNCC): O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação.

Código BISAC: JUV053000, JUV001000, JUV009020, JUV009060.

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